Janela do céu e ‘água preta’: o que fazer nos circuitos do Parque de Ibitipoca | Desafio Natureza | G1

Janela do céu e
Janela do céu e

O Parque Estadual do Ibitipoca foi o mais procurado pelos turistas no estado de Minas Gerais nos últimos cinco anos. Os 25 km de trilha abertos ao público atravessam mirantes, cachoeiras e grutas em um cenário de tirar o fôlego, às vezes literalmente, com altitudes que chegam a 1.784 metros acima do nível do mar.

O G1 conheceu os três roteiros de visitação que fazem o turista gastar energia ao mesmo tempo em que recupera a paz de espírito. Confira abaixo o que há de imperdível:

Parque Estadual do Ibitipoca   circuitos e atrativos do parque — Foto: Rodrigo Sanches/Arte/G1Parque Estadual do Ibitipoca   circuitos e atrativos do parque — Foto: Rodrigo Sanches/Arte/G1

Parque Estadual do Ibitipoca – circuitos e atrativos do parque — Foto: Rodrigo Sanches/Arte/G1

Além da Janela do Céu

O Circuito Janela do Céu evidentemente inclui o atrativo mais procurado do parque e que dá nome ao roteiro – um mirante sobre uma cachoeira de sete quedas, com vista para o céu e para os diferentes tons de verde dos mares de morros.

A parte interna da Janela do Céu é um espaço que comporta aproximadamente dez pessoas, que se espalham pelas águas do Rio Vermelho e que realmente precisam esperar em fila para fazer sua foto no ponto mais requisitado.

O roteiro, no entanto, vai além deste mirante. O Circuito Janela do Céu é o maior dos três abertos à visitação, com 16 km de trilha, já contando ida e volta, percorridos em cerca de seis horas.

No ponto mais alto do parque, o Pico da Lombada, o visitante tem uma visão ampla da Zona da Mata mineira, à leste, e do Campo das Vertentes, à oeste. O terceiro palco no trajeto é o Pico do Cruzeiro, onde a comunidade reza o terço todo 3 de maio, Dia da Santa Cruz.

Pela experiência, há visitações às grutas da Cruz, abaixo do Pico do Cruzeiro, dos Três Arcos, completamente arejada por três aberturas, e dos Moreiras, que exige lanternas ao longo de seus 500 metros de extensão.

Para tomar banho, a Cachoeirinha, acima da Janela do Céu, encanta os visitantes, com 35 metros de queda d’água, cercada de areia branca.

O trajeto é bem sinalizado e com trilha bem delimitada, mas os guias recomendam o passeio para pessoas com um mínimo de preparo físico e alertam para que não se esqueçam de lanches e do relógio, pois o retorno à portaria deve ser feito até as 18 horas.

Circuito das Águas, o mais rico em atrativos

Considerado pelos guias turísticos o roteiro mais bonito da região, o Circuito das Águas possui aglomeração de mais de 15 atrativos em apenas 5 km de trajeto. São lagos, paredões, grutas, cachoeiras, piscinas naturais e altos visuais.

É o roteiro mais curto e, diferentemente do Circuito Janela do Céu, pode ser curtido por crianças acompanhadas, já que as trilhas são curtas.

São as quedas do Rio do Salto que proporcionam os maiores atrativos: os turistas curtem a Cachoeira dos Macacos, cujas águas percorrem 10 metros de altura até cair na parte baixa da Ponte de Pedra, formando uma piscina natural, o Lago das Miragens, margeado pelo Paredão de Santo Antônio, o Lago dos Espelhos, que mais parece uma praia, e o Lago Negro, com águas escuras devido à pouca incidência do sol na área, cercada por paredões, além da Prainha.

Circuito do Pião, o subestimado

O roteiro é o menos procurado, mas bastante recomendado para quem procura uma boa trilha. São aproximadamente 9 km de caminhada, contando ida e volta, em um percurso realizado em quatro horas.

Lá do alto, o visitante se depara com as ruínas da capela de Bom Jesus da Serra e tem uma vista mais voltada para o leste, para a região das serras da Mantiqueira e dos Órgãos.

É neste roteiro que o turista conhece a Gruta do Pião e a Gruta dos Viajantes, esta última, considerada a mais bonita pelos guias, com várias galerias naturais, que serviam de abrigo para os tropeiros.

Quartzito, ‘água cor de Coca-Cola’ e vegetação

O relevo, a cor da água e a vegetação são atrativos à parte.

O parque fica sobre uma formação de quartzito, cujas camadas de areia que o compõe são visíveis e se espalham pelas trilhas e atrativos como resultado de sua dissolução. O solo poroso impacta na coloração das águas, ácidas e espumantes, que variam do dourado ao marrom.

O principal responsável pela cor de “coca-cola”, no entanto, é o tanino das folhas, que se decompõem nos rios, e a variação da incidência de luz, bloqueada pelos paredões.

As folhas são dos mais diversos tipos, pois a cada passo nas trilhas, o turista acompanha a rica biodiversidade do parque, passando por trechos de vegetação seca, com cactos e árvores de galhos retorcidos, seguidos de campos de vasta extensão e trechos úmidos, cujas águas dos rios fazem a floresta prosperar.

É uma aula prática de biologia, em que se pode observar líquens colados aos troncos e às rochas, que dão condições para o nascimento de briófitas (musgos) e pteridófitas (samambaias), os três colonizadores pioneiros de toda a vegetação, que ainda abriga mil espécies, como bromélias e orquídeas, e endêmicas, que só existem dentro do parque.

A fauna também é muito rica, com 39 espécies de anfíbios, 18 de cobras e lagartos, 46 de mamíferos e mais de 100 espécies de aves. No entanto, dificilmente o turista vai cruzar com os animais ao longo dos 25 km de trilha, que representam 2,8% do parque.

Fora do parque

Como o G1 mostrou, as agências de turismo locais elaboraram pelo menos dez passeios por áreas vizinhas ao parque. Entre as opções estão expedições de caiaque, travessias à cavalo, acampamento selvagem e passeios de bicicleta, que duram de um a sete dias, neste último caso, um roteiro chamado “Volta das Transições”, com 390 km de extensão, passando por 11 cidades.

Os turistas também podem visitar a vila de Conceição do Ibitipoca, localizada a 3 km da portaria do parque, cuja origem remonta ao século 17, quando a região era habitada pelos índios Aracy e, em seguida, pelos exploradores em busca do ouro.

Há duas igrejas na vila. A Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição foi construída em 1768 e sua principal característica é a torre do sino, separada do corpo da igreja, algo incomum para a época em que foi erguida. A atual Igreja Nossa Senhora do Rosário foi construída no início do século 20, depois que a primeira, construída por escravos que eram impedidos de assistir às cerimônias na igreja matriz, 100 anos antes, ficou em ruínas.

A vila é habitada por pouco mais de mil habitantes hospitaleiros, sempre prontos para uma boa prosa, que trabalham em cafés, bares e bistrôs, lojas de artesanato, queijos e cachaças. Com ruas estreitas, o ideal é deixar o carro na pousada ou hotel e passear pelas ruas de pedras. Há ainda mercearia, açougue, oficina e padaria.

Além disso, Ibitipoca está crescendo e montando seu calendário cultural. Há três eventos na região, que se consolidaram como modelo devido à organização e escolha pela baixa temporada.

Em agosto, o Ibitipoca Blues completa 20 anos e, no mesmo mês, acontece o Off Road, que realiza sua 30ª edição em uma competição para carros e motos por 400 km dos mais variados terrenos e cenários. Antes disso, em junho, haverá o 4º ano do Luau, com muita música madrugada adentro.

O que você precisa saber

Há 600 ingressos individuais disponíveis por dia, todos vendidos diretamente na portaria do parque, que abre para visitação às 7h e fecha às 18h. Não são permitidas a entrada de animais de estimação, nem a prática de esportes radicais na reserva.

Os ingressos custam R$ 20 por visitante nos dias úteis e R$ 25 nos sábados, domingos e feriados. A vaga no estacionamento para bicicletas é gratuita, para motos custa R$ 20, para veículos de até 7 passageiros, R$ 25, e, para micro-ônibus, R$ 65.

O visitante deve se certificar de que tomou a vacina contra a febre amarela, pois no ano passado, alguns casos da doença foram registrados na região. Repelente não é necessário devido à altitude.

O parque possui camping para 15 barracas, restaurante com vista panorâmica e o Centro de Visitantes August Saint-Hilaire, batizado em homenagem ao primeiro naturalista a descrever a fauna e a flora da área. O espaço tem exposição permanente com painel interativo, maquetes e fotos.

Entre outubro e janeiro ocorrem chuvas intensas e descargas elétricas. De fevereiro a maio, o tempo é limpo e com temperaturas agradáveis. De junho a setembro chove pouco e as temperaturas são amenas.

Os guias turísticos recomendam calçado fechado, óculos escuros, chapéu e roupas confortáveis, assim como capa de chuva para evitar imprevistos. Também é importante levar água e lanches nos passeios porque a caminhada ou o tempo no atrativo podem ser longos.

Caso o turista viaje com uma agência e utilize o serviço de um guia é importante se certificar de que ambos são credenciados junto à prefeitura de Lima Duarte e ao Instituto Estadual de Florestas (IEF), respectivamente.

O visitante sem carro consegue ir a Ibitipoca, mas é importante montar uma agenda com opções de transporte, pois não há táxi, nem motoristas de aplicativo. As agências de turismo locais e motoristas particulares com jipes oferecem o serviço, cujas corridas de 3 km entre o parque e a vila variam de R$ 10 a R$ 20. Eles também podem fazer o transporte até o aeroporto ou rodoviária, se combinado com antecedência.

Como chegar

O parque fica na Zona da Mata mineira, sul do estado de Minas Gerais. Ocupa parte dos municípios de Bias Fortes, à leste, Santa Rita do Ibitipoca, ao norte, e Lima Duarte, ao sul e ao oeste, este último, o ponto de apoio dos turistas, com pousadas e restaurantes na vila de Conceição do Ibitipoca.

A partir da capital Belo Horizonte, o turista deve percorrer 260 km de BR-040 no sentido Juiz de Fora, acessar à BR-267 no trevo do km 779, rodar 40 km até o município de Lima Duarte e percorrer 27 km de estrada de terra até a vila de Conceição do Ibitipoca.