O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, comemorou neste sábado (8) o acordo migratório com Trump que evitou a imposição de tarifas dos Estados Unidos aos produtos mexicanos, mas avisou que “compromissos se cumprem”.
Obrador participou do “Ato de unidade em defesa da dignidade do México e em favor da amizade com o povo dos Estados Unidos” realizado na cidade fronteiriça de Tijuana. Além de membros do governo, quase todos os 32 governadores do país e representantes do Congresso estavam presentes no evento.
O líder do partido esquerdista Movimento Regeneração Nacional (Morena) celebrou o fato de que “se impôs a política sobre a confrontação”.
“Eu não levanto a mão fechada, mas uma mão aberta e franca, reiteramos a vontade de amizade, diálogo e colaboração. Como líder e representante do estado mexicano não posso permitir que ninguém atente contra a economia do nosso país”, afirmou Obrador
O presidente disse ainda que a ameaça de taxação colocava o México “em uma situação muito difícil, muito desconfortável” e que se as tarifas sobre produtos mexicanos tivessem sido impostas pelos EUA, ele teria que aplicar “as mesmas medidas” a “certos bens dos Estados Unidos”.
No acordo, o México se comprometeu a colocar 6 mil membros da Guarda Nacional para controlar a sua fronteira com a Guatemala e para acolher os imigrantes que procuram asilo nos Estados Unidos enquanto o seu pedido seja resolvido. O deslocamento militar começou na quinta-feira (6), véspera do anúncio do acordo.
Sobre isso, Obrador garantiu que vai reforçar sua fronteira com a Guatemala, mas que os EUA devem respeitar os direitos humanos dos migrantes e apoiar um plano de desenvolvimento para a América Central, como foi negociado com Washington.
O presidente anunciou também que na próxima semana seu governo começará a fornecer “ajuda humanitária” para essas pessoas, bem como instalações para emprego, saúde e educação.
Além disso, ele reivindicou seu plano para desenvolver economicamente a Guatemala, Honduras e El Salvador para erradicar a migração forçada e com o qual Washington se comprometeu.
O líder mexicano lembrou que 43 mil crianças migrantes viajam sozinhas para chegar aos Estados Unidos, e que esse fenômeno não pode ser tratado com “medidas coercitivas”.
Melania e Donald Trump embarcam no Air Force One rumo a Washington após visita à Europa — Foto: Carlos Barria/Reuters
Caso Trump e o México não tivessem chegado a nenhum acordo, os produtos importados mexicanos sofreriam taxação gradual, que começaria em 5% a partir desta segunda-feira (10). Veja o calendário abaixo:
- Taxação de 5% a partir de 10 de junho;
- 10% a partir de 1º de julho;
- 15% a partir de 1º de agosto;
- 20% a partir de 1º de setembro;
- 25% a partir de 1º de outubro;
- Permanecer em 25% indefinidamente.
Críticas
Defensores de imigrantes e políticos da oposição mexicana criticaram, neste sábado (8), o acordo de migração alegando que o tratado vai militarizar a fronteira entre o México e a Guatemala.
Nem todos os migrantes que tentam entrar nos Estados Unidos são mexicanos — grande parte vem de países como Guatemala, El Salvador e Honduras. Muitas vezes em caravanas, os grupos atravessam o México até a divisa com o território norte-americano.
“Neste acordo, os migrantes servem como moeda de troca. Estão criminalizando o fenômeno migratório. Vão militarizar a fronteira e prender mulheres e meninas”, disse à AFP Luis Rey Villagrán, ativista que defende os direitos dos migrantes. “É atropelar a soberania nacional”, acrescentou.
Marko Cortés, líder do Partido de Ação Nacional (PAN), opositor de López Obrador, também criticou o posicionamento da Guarda Nacional na fronteira sul.
“Parece que os presidentes usaram o medo de seu povo para chegar a um acordo — México, o [medo] econômico, e os Estados Unidos, o [medo do] migrante, em uma ação judicial, em que o governo mexicano foi forçado a cumprir a implantação de um muro militar no sul”, disse ele em uma rede social.