Efeito-imitador: quando o sensacionalismo leva a novos ataques como o de Suzano | Blog do Samy Dana | G1

Efeito imitador: quando o sensacionalismo leva a novos ataques como o de Suzano
Efeito imitador: quando o sensacionalismo leva a novos ataques como o de Suzano

Você já deve ter se dado conta de que suicídios raramente são noticiados. Mas não era assim até os anos 80. Pouco mais de três décadas atrás, era comum ler sobre suicídios no jornal. Não havia o pudor de hoje para tratar o assunto até que uma onda de suicídios de jovens em Nova York colocou um dilema para o público e a imprensa.

Os editores desconfiavam que as informações divulgadas sobre os suicídios levavam outros jovens a imitar aqueles que tiravam a própria vida. Desde então, os jornais (não só os americanos, mas em muitos países) se tornaram mais criteriosos para divulgar suicídios.

Esse mesmo dilema agora confronta a todos diante de massacres o ataque à escola estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), ou do massacre de Christchurch, na Nova Zelândia. Crimes violentos costumam receber divulgação nos mínimos detalhes. Mas essa overdose de informações pode estar provocando o surgimento de imitadores.

O Efeito Imitador ou Copycat Effect é uma teoria que envolve crimes violentos. Informações sensacionalistas sobre um ataque teriam influência em alguns ataques futuros. A violência se espalha por contaminação.

Em um estudo de 2015, Sherry Towers, Andres Gomez-Lievano, Anuj Mubayi, Carlos Castillo-Chavez (todos da Universidade do Arizona) e Maryam Khan (Chicago) estimam que dois a cada dez massacres em escolas americanas são influenciados por ataques anteriores.

Os cinco autores revisaram 232 tiroteios com pelo menos quatro vítimas entre 2006 e 2012, assim como os ataques a escolas durante 15 anos, entre 1998 e 2013. Um desses casos foi o emblemático massacre da escola infantil Sandy Hook, em 2012, que sensibilizou os Estados Unidos por envolver crianças. Um tiroteio ocorre a cada 15 dias em média no país e uma escola é atacada todo mês.

Nesse cenário de horror, além de fatores como problemas mentais e fácil acesso a armas, que aumentam a frequência dos ataques, os psicólogos estão convencidos de que alguns indivíduos, estressados, tenham copiado os detalhes dos eventos anteriores.

Um modelo matemático, usado pelos pesquisadores, comparou as características de cada ataque. Pessoas perturbadas – os dados mostraram – são mais vulneráveis às informações sobre os crimes nos 13 primeiros dias após um massacre. É mais provável que um imitador ataque nesse momento, mas se não acontecer, aos poucos, o interesse pelo crime vai diminuir e o risco de agir é menor.

Estudo compara a frequência de ataques com a tendência e a imitação provocada por eles — Foto: Estudo Contagion in Mass Killings and School ShootingsEstudo compara a frequência de ataques com a tendência e a imitação provocada por eles — Foto: Estudo Contagion in Mass Killings and School Shootings

Estudo compara a frequência de ataques com a tendência e a imitação provocada por eles — Foto: Estudo Contagion in Mass Killings and School Shootings

Nos gráficos acima, as linhas na cor cinza indicam os atentados. As linhas vermelhas marcam a tendência, verificada pelo modelo, de um massacre induzir a outro com características parecidas. E as linhas verdes apontam os atentados que realmente ocorreram por imitação.

No estresse provocado por um ataque como o de Suzano, existe um interesse natural por informações e alguns jornalistas exageram. É fácil botar a culpa neles, mas também existe um público ansioso por detalhes mórbidos. Cabe a todos discutir e impor limites.