PGR defende que STF rejeite pedido sobre cumprimento imediato da 'revisão da vida toda' do INSS | Política | G1

PGR defende que STF rejeite pedido sobre cumprimento imediato da 'revisão da vida toda' do INSS
PGR defende que STF rejeite pedido sobre cumprimento imediato da 'revisão da vida toda' do INSS

A Procuradoria-Geral da República defendeu, no Supremo Tribunal Federal, a rejeição de um pedido da Defensoria Pública da União para garantir que a decisão da Corte sobre a chamada "revisão da vida toda" já seja cumprida.

A PGR afirmou que o tema ainda está em discussão na Corte, ou seja, o processo que definiu a possibilidade de revisão dos benefícios ainda não teve o julgamento concluído.

O tribunal chegou a começar a analisar um recurso do INSS no último dia 11 de agosto, no plenário virtual. Mas um pedido de vista do ministro Cristiano Zanin suspendeu a deliberação. Nesta quarta-feira, a ministra Rosa Weber decidiu antecipar o voto no caso.

Não há ainda, no entanto, data para que o tema volte à pauta.

Além disso, o ministro Alexandre de Moraes, relator da "revisão da vida toda", suspendeu os processos nas instâncias inferiores que tratam do mesmo tempo, para garantir a segurança jurídica.

Ou seja, como o processo ainda não tem uma decisão definitiva, a PGR entende que não é o momento para atender à pretensão da DPU.

"De fato, não há como conhecer-se do presente pedido, uma vez que seu escopo é viabilizar o cumprimento de uma decisão judicial, ainda que proferida em sede de repercussão geral, que ainda não está definitivamente julgada. Como asseverou o relator do feito, a decisão pende do julgamento dos embargos declaratórios opostos pelo INSS", afirmou o Ministério Público.

"Carece a presente ação, portanto, do pressuposto processual do interesse de agir, caracterizado pelo binômio necessidade-utilidade, haja vista que as medidas pleiteadas pela reclamante pressupõem a possibilidade de se dar cumprimento, neste momento, à decisão judicial exarada no recurso extraordinário em foco, o que não ocorre", completou.

Histórico

A DPU pediu, em julho deste ano, que o tribunal crie um grupo para debater soluções para que a decisão seja executada e o benefício chegue a quem tem direito. Este pedido da Defensoria tem como relator o ministro Gilmar Mendes.

A "revisão da vida toda" no INSS é o recálculo da média salarial para a aposentadoria considerando todas as remunerações do trabalhador, mesmo as anteriores a julho de 1994, quando foi implementado o Plano Real. O mecanismo pode, na prática, mudar os valores dos benefícios de milhares de aposentados e pensionistas.

O caso foi julgado em dezembro do ano passado no STF e o

INSS recorreu, pedindo que os ministros estabeleçam que a decisão tomada no julgamento só tenha efeitos para o futuro, e não alcance, por exemplo, benefícios que já foram pagos antes do entendimento firmado pelos ministros.

A DPU, no entanto, acionou a Corte em nome de pessoas vulneráveis que já têm, em tese, direito ao procedimento. Segundo a Defensoria, após o julgamento de dezembro, potenciais beneficiários da decisão procuraram a instituição porque não sabem se, em seus casos, a revisão vai trazer vantagens.

Para saber isso, relatam, é preciso realizar cálculos. Estes contribuintes, segundo a DPU, chegaram a procurar o INSS, mas receberam como retorno a informação de que a instituição não poderia fazer a análise, por não ter estrutura.

"A partir deste julgamento, diversas pessoas passaram a procurar a Defensoria Pública da União (DPU) com o intuito de pleitear o reajuste de seus benefícios previdenciários. Além das pessoas que procuraram a Defensoria Pública após o julgamento do STF, havia um considerável número de ações já ajuizadas e que se encontravam suspensas até o julgamento do recurso extraordinário pelo Supremo Tribunal Federal", relata o documento.

"Contudo, na maioria dos casos que chegam à DPU, os beneficiários não sabem ao certo se a revisão será de fato benéfica, é dizer, se realmente representará acréscimo ao valor do benefício. A resposta depende, invariavelmente, da realização de cálculo", prossegue.

"Nisso se apresentou um óbice à efetividade da decisão do STF. Isto porque, ao procurar o INSS, as partes interessadas têm recebido como a resposta a indicação de impossibilidade de que o cálculo seja realizado pela autarquia, especialmente em razão do volume de demandas decorrentes da decisão da Corte. Ao cabo, referida decisão não está sendo cumprida", completa.

Segundo a Defensoria, o público que procura os seus serviços não tem condições de arcar com um cálculo particular. E, mesmo que isso fosse feito, o INSS não aceitaria pagar o benefício sem refazer os cálculos com seus especialistas, sob seus parâmetros.

"Deste modo, percebe-se que a única solução possível é a realização do cálculo pelo próprio INSS ou a realização de convênio com essa finalidade", afirma.

A DPU pediu à Corte a chamada "intervenção estrutural do Poder Judiciário", para que as políticas públicas sejam realizadas e permitam a garantia de direitos fundamentais.

"Necessário, portanto, uma solução estruturante para a demanda multitudinária estrutural, mediante construção colaborativa de soluções".

A DPU também pediu "que seja determinada a suspensão dos prazos prescricionais e decadenciais das ações individuais, a fim de evitar o abarrotamento do sistema de justiça (Poder Judiciário, Defensoria Pública, Advocacia Pública da União etc.) com o ajuizamento de milhares de processos visando determinar a realização do cálculo pelo INSS".

Impactos

A Defensoria Pública da União apresentou, no processo, uma nota técnica do Conselho da Justiça Federal.

O documento aponta que não é possível precisar quantos benefícios demandam revisão após a decisão do STF, mas lembra que, segundo o INSS, entre a edição da lei questionada e a reforma da Previdência de 2019, foram 20 anos. Neste período, mais 50 milhões de benefícios foram concedidos, entre ativos e inativos.

Além disso, o CJF apontou os reflexos nas ações sobre o tema que tramitam na Justiça.

"Ocorre que os segurados já começam a pedir o desarquivamento e julgamento das ações, causando impactos significativos na gestão das unidades judiciárias, pelo grande número de feitos que envolvem a questão. Os processos se encontram em diversas fases de tramitação: fase postulatória, em grau recursal ou mesmo em fase de cumprimento de sentença que reconheceu o direto à revisão", afirma o documento.

"Existem várias questões não bem assentadas, que provocarão, certamente, um colapso no sistema de justiça, notadamente nos Juizados Especiais Federais, por onde tramitará a maioria dessas ações em razão de sua competência e do valor da causa. Será necessária a realização de cálculos em cada um dos processos, com abertura de contraditório, notadamente porque muitos dos critérios de atualização monetária adotados pelo INSS diferem daqueles reconhecidos pela Justiça brasileira. Seguir-se-ão milhares de despachos, sentenças, recursos, publicações, a demandar um trabalhado invencível pela Justiça", completa.