1 de 4 Produção de leite no Paraná. — Foto: Caminhos do Campo/RPC
Produção de leite no Paraná. — Foto: Caminhos do Campo/RPC
O preço do leite aos produtores acumulou alta real de 11,8% entre janeiro e abril de 2023, de acordo com boletim divulgado, nesta terça-feira (30), pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, o campus da Universidade de São Paulo em Piracicaba (SP).
Segundo a analista do Cepea para o setor, Natália Grigol, a valorização do leite cru em abril se manteve atrelada à queda da oferta do alimento no campo, prejudicada pelo avanço da entressafra do produto -período intermediário entre uma safra e a seguinte – na maior parte do Brasil.
“Por isso, a disputa entre laticínios por produtores esteve intensa em abril, contexto que manteve as cotações do leite em alta”, afirmou.
Os estudos do Cepea da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) apontam que o preço do leite cru captado por laticínios em abril, e pago em maio deste ano, chegou a R$ 2.8961 por litro na "Média Brasil" líquida, uma elevação de 2,4% na comparação com o mês anterior.
Em relação à março, a alta foi de 9,3%, em termos reais – os valores foram deflacionados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, de acordo com boletim do Cepea. Os preços líquidos não contêm frete e impostos.
A tabela, abaixo, mostra os preços líquidos do leite cru, captados em abril e pagos em maio deste ano, entre os estados que integram a Média Brasil.
Preços líquidos nominais do leite cru captado em abril/23 nos estados da 'Média Brasil'
A pesquisadora ressalta, entretanto, que o Índice de Captação Leiteira do Cepea (ICAP-L) começou a subir em novembro de 2022, com avanço de 0,2% na "Média Brasil", puxado pelos incrementos de 4,1% e de 3,7% nas captações do Paraná e de São Paulo. No acumulado do ano, a captação nacional registra queda de 6,4%.
Repercussão no mercado
Natalia aponta que a valorização do leite ao produtor já pôde ser observada no mercado do leite spot, aquele comercializado entre empresas.
A pesquisadora destaca que, em Minas Gerais, a média mensal subiu 11,2% em abril e o preço alcançou os R$ 3,34 por litro no período.
2 de 4 Produção de leite em Castro, nos Campos Gerais do Paraná — Foto: RPC Ponta Grossa
Produção de leite em Castro, nos Campos Gerais do Paraná — Foto: RPC Ponta Grossa
"Vale destacar que esse aumento esteve relacionado à recuperação das cotações observada na primeira quinzena de abril, já que, na segunda metade do mês, o leite no spot passou a se desvalorizar. Em Minas Gerais, inclusive, a média mensal do spot em maio recuou 16,6% e chegou a 2,78/litro", comentou.
Com o encarecimento da matéria-prima, os laticínios realizaram de forma generalizada, o repasse da valorização do leite cru ao preço dos lácteos negociados com os canais de distribuição em abril.
3 de 4 Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de março/2022). — Foto: Cepea-Esalq/USP
Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de março/2022). — Foto: Cepea-Esalq/USP
Atacado paulista
No atacado paulista, as cotações médias do UHT, da muçarela e do leite em pó fracionado subiram 9,5%, 4,9% e 1,6%, respectivamente, conforme apontou a pesquisa do Cepea em parceria com a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB). O consumo, por sua vez, segundo o estudo, seguiu enfraquecido, e as cotações de maio mostram tendência de queda.
Expectativas do setor
Agentes do setor esperam uma inversão da tendência no preço do leite pago ao produtor em maio.
"Somada à retração do consumo doméstico, as importações de lácteos seguem bastante elevadas. Em abril, as compras externas caíram significativos 30,3% frente às do mês anterior, mas o volume ainda esteve três vezes maior que o registrado em abril do ano passado", analisou Natália.
Agentes do setor também esperam que a produção no campo seja incentivada pela queda nos custos de produção e pela melhora da relação de troca.
A pesquisa do Cepea também demonstra que o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira caiu 1,3% na “Média Brasil” em abril. O resultado é influenciado pela retração nos preços do concentrado. "Com isso, o poder de compra do produtor frente ao milho teve uma melhora de 4% de março para abril", apontou o Centro de Estudos da Esalq/USP.
4 de 4 Fazenda Agrindus, de Descalvado (SP). — Foto: Fabiana Assis/G1
Fazenda Agrindus, de Descalvado (SP). — Foto: Fabiana Assis/G1