'Nhoque da fortuna' no dia 29: o que é e de onde vem a tradição | Turismo e Viagem | G1

'Nhoque da fortuna' no dia 29: o que é e de onde vem a tradição
'Nhoque da fortuna' no dia 29: o que é e de onde vem a tradição

'Nhoque da fortuna' no dia 29: o que é e de onde vem a tradição

Prato, hoje tradicionalmente feito com batata e farinha, tem origem italiana.

Por Sarah Resende — São Paulo

29/02/2024 14h25 Atualizado 29/02/2024

1 de 2 Nhoque — Foto: Reprodução/TV Globo

Nhoque — Foto: Reprodução/TV Globo

Diz a lenda que todo 29 é dia de comer nhoque. Apesar das origens italianas (o nome vem de gnocchi), comer nhoque no dia 29 de cada mês é uma tradição que se fortaleceu na América do Sul, trazida por imigrantes que chegaram, principalmente, no Brasil e na Argentina (por isso o hábito também é típico entre os nossos vizinhos hermanos).

🍝 Chamado de "nhoque da fortuna", o prato deve ser servido, segundo a tradição, todo dia 29. Em 2024, por se tratar de um ano bissexto, o costume poderá ser feito nos 12 meses do ano.

🤔 E qual a origem da tradição? Aqui, é preciso reforçar: trata-se de um lenda, uma crença popular. Isso significa que a história pode ter diferentes variações e versões. A principal remonta a São Pantaleão, um médico turco que vivia como peregrino na região do Vêneto, no nordeste da Itália. Quem explica isso é Simone Paratella, chef de cozinha natural da cidade italiana de Alba — ele tem restaurante no Brasil e sua família é do Vêneto.

"Com fome, São Pantaleão chegou na casa de agricultores, que cozinharam nhoque. Junto ao grupo, ele rezou pela prosperidade da safra naquele ano, comeu e foi embora. Depois, a esposa do dono da casa encontrou moedas de ouro embaixo dos pratos."

💰 O episódio teria acontecido em um dia 29. Por isso, criou-se a superstição, para quem acredita, de colocar uma nota ou uma moeda embaixo do prato de nhoque no dia 29 de cada mês. Há, ainda, outras variações da lenda, como a de que é preciso comer sete bolinhas de nhoque de pé (mas sempre no dia 29).

🥔 👎 Mas, como explica Simone, de batata que não era o nhoque que Pantaleão comeu no ano 300 depois de Cristo, já que o tubérculo, considerado um alimento do "novo mundo", ainda não existia na Europa na época e só chegou muitos anos depois.

"Na época, não havia batata, era nhoque de farinha", explica Simone.

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🧑‍🍳 E como é uma receita de nhoque? A resposta varia (e muito). Há nhoque de abóbora, de mandioca, de sêmola, com ovo na massa, sem ovo na massa, regado a molho vermelho ou outros tipos de molho etc — tudo depende da região e dos costumes locais. Mas, tanto na Itália quanto no Brasil, a versão mais comum é mesmo a feita a base de batata.

Segundo Simone, na Itália há um ditado que diz "gnocchi si fanno con le patate vecchie" — "nhoque se faz com batata velha", em tradução livre do italiano.

2 de 2 Imagem de arquivo mostra um prato de nhoque — Foto: Eulâmpio Vianna Neto

Imagem de arquivo mostra um prato de nhoque — Foto: Eulâmpio Vianna Neto

"Quando a batata começa a murchar, ela perde a água. Então fica mais fácil, ela puxa menos farinha. E aí ele fica mais doce, menos amargo e menos duro". Mas isso, como explica Simone, é uma tradição dos tempos de guerra, quando a batata precisava ser armazenada em estoque por um bom tempo. E uma versão adotada pelos cozinheiros mais tradicionais.

A regra mesmo, esta inegociável para Simone, é a de que "o nhoque tem de ser comido sempre fresco".

"Prepara, coloca nas bandejas e depois cozinha. Na escola italiana ensina-se que tem que ser farinha, batata, ovo, sal, pimenta do reino e um pouco de parmigiano reggiano (um tipo de queijo muito nobre na Itália, primo do parmesão) ou grana padano, um dos dois, outro tipo de queijo, não." E, mesmo na Itália, a receita muda a depender da região.

O que Simone reforça, entretanto, é que o hábito de comer sempre no dia 29 se fortaleceu mesmo na América do Sul, quando os italianos migraram para cá. "Essa questão de tradição é só suas (dos latinos) mesmo."

🤔 Curiosidade… Pantaleão viveu apenas 28 anos e morreu decapitado em 27 de julho de 305, após ser torturado, segundo o jornal argentino "El Clarin". Em Buenos Aires, na Argentina, existe um templo no bairro Mataderos onde, desde 1970, está exposta uma parte de um osso do braço do santo.

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